Se não perversão, o que, então?

Barbara Solon
3 min readFeb 29, 2024

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Falar de sexualidade é um tabu, porque implica em reconhecer os prazeres envolvidos, que outrora foram reprimidos devido as exigências da cultura. Os instintos sexuais possuem uma constituição complexa e perverso-polimorfa, assim como nomeou Freud. O que me leva a pensar o porquê perverso?

Bem, para Freud o uso do termo ocorre como resposta a querela sobre a sexualidade que ocorreu em sua época. O uso deliberado da palavra perversão indicava prática sexuais que subvertiam as normas de uma ética sexual vigente. Freud puxa o termo para fazer um contraponto a Kraft-Ebbing e utiliza como referência autores como Havelock Ellis e Alfred Binet para construir sua teoria sobre a sexualidade.

O uso da palavra perversão é anterior a Freud, obviamente, o psicanalista se desvincula de uma visão moral para falar da sexualidade, e aposta em uma outra conotação para a palavra perversão. Se antes era uma aberração, agora , para a psicanálise não passa de uma característica da sexualidade humana.

No entanto, está impregnado no termo um certo negativismo. Se passearmos por outros campos do saber a perversão será algo que diz de uma criminologia ou de uma patologia, ou seja, o termo é empregado para descrever alguma anomalia no laço social. Isto também respinga na psicanálise- se um dia Freud tentou tirar a perversão do rol da moral, hoje temos psicanalistas que associam esta posição discursiva a atos “degradantes”.

A palavra perversão vem do latim, e sua etimologia foi feita em torno da noção de subversão. Isso, eu acredito que deva permanecer, subversão. Porque é exatamente neste ponto que o perverso toca. Mudar de termo para tirar o estigma não adianta. A minha proposta é que se pense o porquê a perversão precisa significar degradação apenas porque está no campo da subversão. Como assim?

Eu defendo a perversão como uma estrutura discursiva que se desencontra com as propostas de saber de sua época. Com essa '' definição'' temos a possibilidade de reconhecer a perversão não como uma patologia ou criminologia, mas como uma forma de construir um saber que faz furo nos dispositivos de poder. Não é a toa que a própria posição que o perverso assume diante do Outro é a de causar uma divisão subjetiva.

Podemos dizer que a histeria já assume este papel? Talvez. Eu acredito que há uma histericização do discurso do perverso, mas isto tem mais haver com o gozo no qual ele está submetido e como ele age com o outro, do que sua relação com o grande Outro. Quando a gente fala destes dispositivos de poder (Estado, Religião, etc.) para mim o perverso e a histérica dão as mãos quando o assunto é causação.

Posso até estar falando besteira. Talvez, em outro momento – um mais oportuno, eu possa trazer a vocês uma percepção mais elaborada ou até mesmo diferente. Mas no momento, o que posso oferecer é este tensionamento. Se é perversão, por que tratar como algo mal, então?

Para mim perversão é a possibilidade de mobilização. Nem mal, nem bom. Apenas subversão.

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